Exposição - Sesc Santana - 2019 - EM meio à multidão me perdi em mim - Arthur Arnold
EM MEIO À MULTIDÃO ME PERDI EM MIM
Em meio à multidão me perdi em mim,óleo sobre tela, 350 x 350 cm, 2019
O fenômeno das massas é bastante complexo e instigante. Seus vários aspectos foram estudados ao longo dos anos, numa tentativa de decifrar as razões mais profundas dessas manifestações da humanidade. Somente na massa é possível ao homem libertar-se do temor do contato com o outro. Na massa ideal todos são iguais, os corpos comprimidos são um só e não existe o indivíduo com diferenças próprias. Arthur Arnold interessa-se pela identidade de grupo que dilui a individualidade, pelo comportamento do homem que se reúne em multidões por motivos diversos formando um gigantesco bloco com um comportamento único. Com espatuladas empastadas, raspadas e algumas pinceladas pontuais Arthur transforma indivíduos em tinta. Usa com precisão a espátula de pedreiro para alcançar efeitos que sua criatividade pede. Nada em suas telas é gratuito e cada uma é estudada e planejada visando a harmonia e a totalidade. Em algumas telas da série Massas podemos ver rostos, braços levantados, corpos colados sugerindo movimento e conclamação. Mas quase sempre o que predomina são pinceladas soltas e camadas de tinta criando texturas. A cor é um elemento forte e até quando o branco é utilizado mostra seu vigor e propósito.
Na obra que nomeia a exposição, EM MEIO À MULTIDÃO ME PERDI EM MIM, o artista faz uma reflexão a cerca da massa passiva que segue repetindo modelos, que recebe, sem contestar, todo tipo de idéias. Passividade é o oposto de atividade e pode impedir a reação diante do que percebemos. Promessas futuras são forte argumento para impulsionar a multidão e fragilizar indivíduos. Na tela de grandes proporções, o movimento da marcha e os componentes dessa massa seguem numa mistura de formas e cores. Arthur procura uma nova maneira de construção, incluindo não mais o registro, mas a dúvida. Não busca respostas, mas sim levantar questões, deixando ao espectador o entendimento e compreensão de suas propostas, assim como a oportunidade de fazer uma leitura crítica. A arte contemporânea muito se interessa por esses questionamentos permitindo que o artista se expresse de variadas formas e proporcionando uma maior visão de mundo.
ISABEL SANSON PORTELLA
Dra. em História e Crítica de Arte pela EBA/UFRJ
Coordenadora e Curadora da Galeria do Lago (Museu da República/IBRAM)
Curadora da exposição ao ar Livre - Intervenções Urbanas Bradesco ArtRio 2015 e 2016 e da exposição Aquilo que nos une no Centro Cultural da Caixa Federal- São Paulo; das exposições acessíveis Arte pra Sentir que Aconteceu em 2018 nos Centros Culturais da Caixa Federal de São Paulo e Brasília
Comentário do artista
Essa exposição aconteceu no primeiro semestre de 2019. A abertura aconteceu no dia 28 de março e durou até 30 de junho.
Para ela fiz essa pintura, "Em meio à Multidão me perdi em mim", que é a maior que eu já pintei até hoje, medindo 3,5 x 3,5 m. Pude também contar com algumas obras um pouco mais antigas, todas girando em torno do tema das massas.
Fiquei bem feliz com o resultado desse trabalho que foi um convite feito pelo Sesc Santana para ocupar o hall de entrada da unidade. Como o pé direito do local é bem alto, senti a necessidade de pintar algo que fosse monumental, ou em outras palavras, que tivesse uma dimensão que abraçasse o público, para fazer com que ele se sentisse parte da obra ou envolvido por ela.
Dividi a pintura em quatro telas de 1,75 x 1,75 m cada. Gosto desse tamanho, porque é relativamente fácil de manipular. Pintei primeiro as duas de cima, deixando o final para ser pintado quando todas estivessem juntas.
No ateliê durante a produção
Foi um processo de 3 meses de produção intensa, no qual fiquei focado exclusivamente nessa obra. Comecei a pintura assim que fui convidado e terminei alguns dias antes de abrir a exposição. Montei a pintura com a tinta ainda fresca. A decisão de dividir a pintura em 4 telas ajudou muito no transporte. Para a montagem foram necessários 3 montadores.
Quando fui convidado para expôr no Sesc Santana decidi pesquisar que tipo de multidão que ocorria nas redondezas. Logo fiquei sabendo que alí perto acontecia com regularidade procissões e marchas religiosas. Como a massa religiosa e sua capacidade de acreditar cegamente sempre me interessaram, decidi pintar uma procissão na qual os participantes se envolvem ao ponto em que viram um ser único. A escala do trabalho faz com que o expectador se sinta parte obra e com isso que ele se questione sobre as belezas e os perigos que existem em uma espiritualidade compartilhada.
Visitantes fazendo selfie em frente à obra
Vista da comedoria
Abaixo segue a reprodução das 4 telas que compõem a obra individualmente. Clique nas imagens para ampliá-las.
Parte 1 - 175x175 cm
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